Brasil e a Argentina vão anunciar nesta semana que estão começando um trabalho preparatório sobre uma moeda comum. Trata-se de um movimento que pode eventualmente criar a segunda maior moeda de um bloco econômico do mundo.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) viajará para a Argentina, onde se encontrará com o presidente daquele país, Alberto Fernández, na segunda-feira (23), e participará de uma reunião de líderes latino-americanos e caribenhos na terça-feira. Com isso, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) assume a presidência da República pela primeira vez.
As duas maiores economias da América do Sul vão discutir o plano em um encontro em Buenos Aires nesta semana e vão convidar outras nações latino-americanas para participar. O foco inicial será em como a nova moeda, que o Brasil sugere que seja chamada de “sur”, pode impulsionar o comércio regional e reduzir a dependência no dólar, segundo fontes oficiais disseram ao Financial Times. No começo, ela pode circular em paralelo ao real e ao peso.
“Haverá uma decisão para começar a estudar os parâmetros necessários para uma moeda comum, o que inclui tudo de questões fiscais ao tamanho da economia e papel dos bancos centrais”, disse o ministro da Economia da Argentina, Sergio Massa, ao Financial Times.
“Deverá ser um estudo dos mecanismos para a integração comercial”, acrescentou. “Eu não quero criar nenhuma expectativa falsa… é o primeiro passo de um longo caminho que a América Latina precisa trilhar.”
Inicialmente um projeto bilateral, a iniciativa deve ser oferecida a outras nações na América Latina. “É a Argentina e o Brasil convidando o resto de região”, disse o ministro argentino.
Uma união monetária que cubra toda a América Latina representaria cerca de 5% do PIB global, estima o FT. A maior união monetária do mundo o euro, cobre cerca de 14% do PIB global quando medido em dólares.
Outros blocos monetários incluem o franco centroafricano, que é usado por alguns países africanos e atrelado ao euro, e o dólar leste caribenho.
Lula reabre relações com América Latina em viagem à Argentina
Três semanas depois de tomar posse pela terceira vez, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva inaugura neste domingo a retomada de sua política externa com uma visita à Argentina e a retomada das relações do Brasil com a América Latina, no aguardado retorno do país à Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac).
Lula decidiu não ir ao Fórum Econômico de Davos –para onde foram enviados os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Meio Ambiente, Marina Silva– para dar preferência aos parceiros regionais. É o sinal claro da intenção do presidente de retomar pontes rompidas durante o governo de Jair Bolsonaro.
O Brasil havia abandonado a Celac em 2019, por ordem de Bolsonaro, que rechaçou participar do grupo regional em que estavam Cuba e Venezuela. Nesse meio tempo, rompeu relações diplomáticas com a Venezuela, praticamente desistiu das instâncias de negociação com a Argentina, um dos maiores parceiros comerciais brasileiros.
“Passado apenas três semanas da posse o Brasil volta ao mundo, e com a primeira escala obrigatória na região, começando pela Argentina. Isso é a grande mensagem. O presidente Lula já ressaltou muito essa imagem do Brasil voltando ao mundo”, disse o embaixador Michel Arslanian Neto, secretário de Américas do Itamaraty.
O que é a Celac?
A Celac foi fundada em fevereiro de 2010, com a participação direta do Brasil, que, ainda em 2018, sediou a I Cúpula de Países da América Latina e Caribe, reunindo representantes dos 33 países (incluindo o Brasil) que integrariam a Celac para discutir um projeto de integração regional.
Desde sua criação, a Celac tem promovido reuniões sobre os diversos temas de interesse das nações latino-americanas e caribenhas, como educação, desenvolvimento social, cultura, transportes, infraestrutura e energia, além de ter se pronunciado em nome de todo o grupo por ocasião de assuntos discutidos globalmente, como o desarmamento nuclear, a mudança do clima e a questão das drogas, entre outros.
O governo brasileiro comunicou no dia 5 de janeiro à secretaria-executiva da Celac o retorno do Brasil ao fórum regional, em uma das primeiras medidas de reconstrução da política externa. O Itamaraty criou, inclusive, um departamento temporário para reinserir o Brasil na Celac, depois de três anos de ausência não apenas nas decisões, mas em iniciativas regionais, como por exemplo ações de integração energética e até na área de saúde, durante a pandemia.
Reaproximação
“Foram três anos de distanciamento. Estamos retomando aproximação com parceiros da região como política de Estado, independentemente da orientação política”, disse o embaixador.
A retomada inclui, na agenda de viagem, um encontro bilateral com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, e com o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, os dois países da região ignorados por Bolsonaro por questões ideológicas, que devem ser os principais encontros de Lula fora da agenda da Celac e da visita oficial ao governo argentino. Também está marcada uma reunião com o diretor-geral do Fundo das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), QU Dongyu.
Moeda única e empréstimo do BNDES: as expectativas argentinas
No início do mês de janeiro, Mara Luquet, colaboradora e parceira da IF, falou direto de uma cafeteria, em Buenos Aires, dos impactos da posse do presidente Lula para as relações bilaterais de Brasil e Argentina.
Mara conta que a manchete de um dos principais jornais da Argentina, o La Nacion, era “Lula inicia uma nova era no Brasil com fortes críticas ao legado de Bolsonaro”. Para os argentinos, o fortalecimento do Mercosul, com a entrada de Lula, sinaliza uma nova frente da esquerda na América Latina. E onde o BNDES
Por: José Eduardo Costa/InteligenciaFinanceira
Esporteenoticia.com